sábado, novembro 19, 2005

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Apresentação do Livro:

O picanço-de-dorso-ruivo. Editado por João Azevedo Editores, Mirandela. Reino (2005).


No passado dia 30 de Setembro foi lançado na Livraria Escolar Editora da Faculdade de Ciências (Lisboa) uma monografia dedicada ao picanço-de-dorso-ruivo. Este livro é a primeira monografia sobre esta espécie em Portugal, detalhando o seu estatuto no território Nacional. A primeira parte do livro é dedicada aos picanços como grupo, nomeadamente os da família Laniidae. A segunda dedica-se a biologia da espécie e ao seu estatuto em Portugal. Este livro também é dedicado a duas pessoas emblemáticas da Ornitologia Nacional: O primeiro é o naturalista e investigador português do século XIX, José Vicente Barboza du Bocage (1823-1907). Este investigador teve o raro mérito de classificar inúmeras espécies novas para a ciência entre as quais destacamos duas espécies de picanços-africanos pertencentes ao género Lanius Linnaeus, 1758; o picanço de Sousa (Lanius souzae Barboza du Bocage, 1878) e o raro picanço de São Tomé (Lanius newtoni Barboza du Bocage, 1891); o segundo é o fotografo Kevin Carlson (1914-2002) cuja contribuição para o conhecimento da avifauna portuguesa a partir das fotografias é única.

LMR

Comportamentos

O picanço-de-dorso-ruivo é um predador oportunista que caça e se alimenta de presas de porte variável, estando os micro-mamíferos, as aves e répteis presentes na sua dieta. Como estratégia própria, armazena e esconde o alimento capturado entre a folhagem de arbustos e árvores, empalando-os em espinhos pontiagudos de acentuada verticalidade, ou entalando-os entre bifurcações. Dada a sua peculiaridade comportamental, foi uma das cenas que se tornava imprescindíveis representar no contexto imagético do livro.
1. Para ilustrar a cena optou-se pelo dramatismo do riscado monotonal, que alia o grande contraste do negro à ilusão óptica dos cinzas (traços negros disposto mais ou menos espaçadamente). Após o delinear das áreas pelo contorno da forma, externa e/ou interna, procuraram-se distribuir traços da mesma espessura em várias direcções, de modo a criar diferenças tonais que mimetizem a cromaticidade da ave, quando reduzida a escala de cinzentos. Embora a imagem obtida se assemelhe a um clássico desenho de tinta-da-china em papel, é contudo um desenho integralmente criado em ambiente digital, recorrendo a software de edição fotográfica para a pintura, ou risco, e a uma caneta e correspondente mesa digital, como periférico (que permitem a liberdade de movimentos própria de cada artista).

2. A ave foi desenhada numa pose de aparente desequilíbrio para reforçar a ideia dinâmica do impulso de evisceração de um pequeno micro-mamífero empalado. Sem elementos cénicos que desviassem a atenção, o direccionamento de composição orientava a leitura para a crueza da imagem, criando um destaque para o elemento secundário pouco desejável.

3. A imagem foi re-equacionada de modo a que o roedor se assemelhasse mais a um rato do campo, que não estivesse empalado, mas sim entalado na bifurcação de um ramo, e que não parecesse tão visceral; para tornar a cena mais credível e aligeirar o impacto da acção principal, optou-se por criar um intrincado labirintico de ramos, em ponteado (stippling) e com efeito atmosférico, ou de desfoque fotográfico.

Textos e Imagens de Fernando Correia & Nuno Farinha (Gradientes & Texturas) © http://www.sciencebyart.com/


Fim do dia

Como característica humana, o bucolismo que atribuímos a um pôr-de-sol causa sempre um certo saudosismo cénico pelo que já se passou e está prestes a terminar, encerrando mais uma capítulo num dia, ou mesmo de um livro. A conjugação de cores ambientais, suaves e quentes, traz uma nova dimensão aos castanhos avermelhados do dorso ruivo que dá o nome a esta espécie de ave.

1. O desenho anteriormente feito a risco foi colorido no mesmo programa da sua génese (Adobe Photoshop), segundo uma metodologia de gradientes de transparência-opacidade que mimetizasse a aplicação das aguarelas, quer transparentes, quer opacas (gouaches). Para a criação do cenário envolvente, incorporaram-se elementos cénicos também anteriormente criados para outras imagens que constam do livro e já propositadamente desenhadas em camadas (layers) editáveis e individualizadas (as árvores de fundo e a tábua com arame farpado). A primeira abordagem dá-nos a sensação de um dia de invernia transmontana, que seria igualmente uma outra abordagem válida.

2. Como muitos dos pastos dos lameiros estão enclausurados entre muros de pedra e sebes vivas, cuja inclinação acompanha a morfologia do terreno, procurou-se transmitir parte dessas evidências em sensações visuais, escolhendo-se uma moldura cénica em esquadria geométrica semi-quadrangular e a linha do horizonte com um declive suave, quase paralelo à continuidade da linha virtual que emerge do arame farpado (propositadamente extravasado do enquadramento) e oposto ao da diagonal representada entre o canto inferior direito e a própria ave.

3. A colocação estratégica da ave no 4º quadrante, aumenta a sensação de área livre na zona oposta, permitindo criar e direccionar visualmente uma situação de fuga, prestes a levantar voo ao mínimo sinal de alerta; por outro lado, presta-se a que a cabeça fique centrada, acima dos elementos cénicos, entre o arvoredo propositadamente descontínuo e junto à área mais iluminada, onde prima a grande bola de fogo que o nosso sol representa. Esta estratégia de composição permite prender a atenção do receptor nesse ponto central e subliminarmente conduzir o seu olhar para as características diagnosticantes que permitem diferenciar esta espécie de outras do mesmo género.


Textos e Imagens de Fernando Correia & Nuno Farinha (Gradientes & Texturas) ©
http://www.sciencebyart.com/